Não come isso menina, é mato! (ou PANC ?)

26 de junho de 201726 de junho de 2017

Com 5 ou 6 anos eu comia anarquicamente trevos de Maria Azedinha, tomava mel de flor Ibisqueira, flor de Maria-sem-vergonha e Maria Pretinha.
Aos sete comia Beldrogão por lazer e  adorava a sementinha de flor estralando na boca.
Mas minha mãe não achava isso bonito, dizia que era veneno e que não podia comer aquilo.
Incrível como mãe tem o poder de arrancar coisa da nossa boca.
Ela nasce com a sabedoria de salvar nossa vida com apenas uma frase impactadora.
Nos livra do engasgo com pedra, caroço, bolinha de gude e “veneno” de Erva Funcho Silvestre.
Eu ficava meia hora impressionada, acreditava que era veneno pelo desespero nos olhos de minha mãe.
Me sentia em situação de risco e um sentimento de pré-morrida me abatia.
Me custava dez minutos cuspindo com arrependimento:
-“Meu deusinho do céu, sou criança demais para morrer envenenada.”
Mas três dias se passavam, eu descobria uma planta nova em minhas andanças e comia escondida até do meu Anjo da Guarda.
Hoje vejo por aí esses matinhos e mostro para o meu filho.
Matinhos que possuem uma linguagem normalmente classificada territorialmente de PANCS: as Plantas Alimentícias Não Convencionais.
 pancs
Mas a advertência congênita de gente típica-urbana que tenho é que tem sujeira pra caramba nos canteiros metropolitanos.
Não sei lidar e penso se isso não torna o consumo inapropriado?
Acho arriscado sair comendo os matos em meio ao asfalto.
O PHD  em PANCS que me perdoem.
Mas vai que você não teme um xixi de cachorro?
Para salvar os dias e me deixar prevenida na tranquilidade tem sempre a aparição dessas plantas na feira da [eu] que é uma opção segura.
Cada feira nostalgicamente me faz uma surpresa, e hoje na minha lista de descobertas [eu] orgânicas tem plantas como Ora-pro-nóbis, Taioba e até flor de abóbora vindas lá da horta.
E esse meu relato pessoal de meio PANCS autodidata me traz uma certeza de que esbarrar com essas comidas é aprender e também dar acesso a memórias lindas.
Devo ter comido tanta flor quando era pequena que é por isso que minha vida floresceu nesse encontro bonito.
Ramone Loyola